terça-feira, 28 de dezembro de 2010

tempo

Não há como escapar dele, todos somos seus súditos. Ele dita as regras e nós as seguimos. Às vezes, nos iludimos e pensamos ser os mestres dele, mas ele é o ditador das nossas vidas - pro mal e pro bem.

Me lembro de, quando pequena, viajar muito de carro com meus pais. Todo dezembro/janeiro era sagrado: viagem de carro pra alguma praia por aí afora. E lá íamos nós, porta-malas cheio, na frente, isopor com sanduíches de maionese, queijo e presunto, e pra acompanhar, toddynho. Pra passar o tempo, joguinhos, gibis e fitas de música infantil. E lá íamos nós. Como não poderia deixar de ser, em algum momento logo após a partida, eu fazia a tão famosa pergunta entre as crianças: "Já tá chegando?". Não me lembro o que meus pais respondiam, mas imagino que eles deveriam me falar a verdade e dizer que não, não estávamos chegando e iria demorar muito pra chegar. Lógico que muito pra eles, era quase infinito pra mim, então, algum tempinho depois, estava eu a repetir a mesma pergunta. Lembro de ser tudo muito divertido, mas muuuuito demorado também. Esse tal de tempo que não passava! Sempre o tempo.

Ainda criança, brincava na rua todos os dias, sem falta. Era meu compromisso sagrado e uma das minhas maiores alegrias. Fim de tarde, rumava eu em busca de meus vizinhos-amigos queridos, porta em porta, chamando todos para a diversão do fim do dia. Pique-esconde, pique-bandeira, bete, elástico, fruta-fora (como era o nome disso?), amarelinha, garrafão... Era muita diversão pra pouco tempo. Eu piscava e lá estava minha mãe, lá embaixo na rua, em frente a nossa casa, a me gritar que era hora de entrar. Tinha que entrar, porque tinha ainda que tomar banho, lanchar e ir dormir cedo. Sempre o tempo.

Fui crescendo e o tempo começou a ter medidas diferentes. Essas medidas dependiam da dor ou do prazer que alguma atividade proporcionava, o tempo era inversamente proporcional a minha vontade. Tudo que era bom, legal, divertido, prazeroso durava pouco. E todo sofrimento era eterno.

Ainda hoje é assim. Há uma semana estou presa no infinito temporal. O tempo não passa, faz questão de não passar, fica ali sentado na beirada da minha cama, observando sadicamente a saudade a me torturar.

Me apego na certeza de que ele não é tão senhor assim das suas próprias vontades. Mesmo que ele insista em andar em câmera lenta, tudo bem, pelo menos ele não pode parar. E um dia, eu hei de matar essa saudade.

Um comentário:

. disse...

Além dessa lembrança do tempo demorado das noites na rua (como passávamos HORAS juntos que ainda pareciam tão pouco? E as férias então, que voavam???), lembro que era uma das poucas vezes em que via minha mãe brava, quando ia me chamar pra voltar da rua.
Eu nunca queria voltar.

Só achei emgraçadinho também que ao mesmo tempo que postou esse, o Cauê, um amigo, postou isso: http://calmae.blogspot.com/

E lembrei da música do Caetano, que acho tão linda: http://www.youtube.com/watch?v=dtBA2vGJqM8

Beijocas, lindona!