quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Só.

Queria saber se ainda duro muito. Já procurei meu prazo de validade por tudo quanto é lado. Não acho. Achei que iria jovem, num ímpeto jovial e descabido em busca da liberdade, em busca da tragédia, na verdade. Em busca da notoriedade, na verdade. Não fui. To aqui. Mas ainda sou
jovem, bastante jovem. Jovialidade expressa nesses trejeitos de menina-mulher, nesse rosto que não impõe respeito. Já estou velha pra brincadeirinhas, pique-pega, pique-esconde. Cansei, não quero mais brincar. Às vezes desço pro play, não aguento muito, logo subo de volta. Quero meu canto, meu 3-quartos, minha sala de TV com sofá aconchegante, lanchinho com papo do dia, o chefe encheu meu saco hoje, terminei aquele projeto, recebi uma cartinha de uma aluna muito fofa se desculpando por ter mentido pra mim, me emocionei, entre olhares, atenção dividida entre relatos, TV, café, pernas debaixo da mesa e papinha caindo no chão: bob, vem lamber! Bob Marley, meu gato vira-lata muito do lindo, do sagaz, do temperamental. Sofia ou Caio ou Lia ou João Pedro ou Ayala ou André ou Cris ou Davi puxou ao pai: teimosia em forma de gente, mas é a cara da mãe, só cachos. O 3-quartos é a cara de nós três, cor de alegria, cheiro de felicidade, gosto de quero mais. Acordo pra lembrar que um dia eu vou morrer e talvez demore muito tempo até alguém me encontrar. Estou sozinha. Vivo sozinha. Sou sozinha.