sexta-feira, 22 de abril de 2011

Um sorriso

...e foi então que seu sorriso alegrou minha noite.

Minha mãe me diz que quando eu era criança, eu era tão bonitinha, eu falava: "Mamãe, ti amu". Minha tia me diz isso também. E a minha vó também. Eu me lembro do meu pai cantando pra mim, eu sentada na pia do banheiro. Eu me lembro de desenhar no espelho, com o vapor da água quente do banho da minha mãe. Me lembro de escrever palavras e ditá-las da trás pra frente pra minha mãe adivinhá-las, enquanto tomava banho. Me lembro de deitar no colo da minha tia, enquanto ela assistia TV com a minha mãe, e lá dormir sob o efeito de massagem na orelha. Me lembro de jogar mau-mau na churrasqueira da minha casa, às sextas à noite, com meu pai tomando a sagrada cerveja que inaugurava o fim de semana. Me lembro de jogarmos burro e ele me deixar ganhar. Me lembro de sentar no chão da cozinha, fechar meus olhos e ficar espantada ao abrí-los e ver que meu tio tinha tirado uma moeda da minha orelha. Me lembro do pão de forma - sem casca - com requeijão da casa da minha vó. Do doce de leite com areinha, comprado por ela ou pelo meu avô, na feira. Me lembro de encher muito o saco do meu avô e ele me chamar carinhosamente de pestinha - e me encher o saco tb. Me lembro da minha vó na beirada da minha cama, me contando a história do carneirinho que desobedeceu a mãe e quebrou a perna. Me lembro da minha prima indo dormir na casa da minha avó, comigo, ou vindo me visitar na minha cidade, ou eu indo dormir na casa dela. Me lembro de nós duas sentada no muro da caixa de correio da casa da minha avó, com as pernas pro lado de fora do portão, vendendo flores catadas na trepadeira do vizinho pra qualquer um que passasse na calçada. Me lembro de andar de calcinha pra todo lado. Me lembro de jogar sabão na garagem pra escorregar rapidão até me estabacar no portão, quase derrubando esse na minha cabeça. Me lembro de brincar na rua todo-santo-dia e ser a criança mais feliz do mundo.

Hoje, tudo parece mais difícil e eu já não sou a mesma. Às vezes, tenho certeza que essa alegria de viver mora dentro de mim e nunca vai me abandonar, às vezes tenho medo de que ela já tenha partido.

Pensando sobre como cheguei até aqui e como todos chegaram onde estão agora, pensando sobre como tantas pessoas mudaram ao longo dos anos - umas pra pior, outras pra melhor, me deparei com um sorriso que há muito tempo já conheço. Pensei que tem gente que tem o dom de cultivar a bondade, a alegria, a doçura dentro de si e ao seu redor. Fiquei feliz de pensar que tenho pessoas assim ao meu redor. Acolhedor e inspirador. 

Não só alegrou minha noite, como acalmou minha inquietação. Não só me fez lembrar da menina melhor que já fui, como me inspirou a buscar isso dentro de mim de novo.

Obrigada, linda!

3 comentários:

. disse...

Texto mais lindo do mundo! Sabe que isso é recíproco? Penso nisso como um presente: nessa árdua vida adulta, temos o conforto de olhar pro lado e encontrar aquela que se estabacava no portão contigo, que dormia no colchão embaixo do seu e ia jogar mau-mau contigo na churrasqueira (e depois pular na piscina, por que não?), e lembrar que ainda somos sim os mesmos.
Eu precisava muito também de uma dose cavalar disso, dessa lembrança, e você trouxe não só essa, mas uma enxurrada delas!
Te amo!

coresquenãoseionome disse...

LINDA!♥

Fernanda Angelo disse...

Lindo texto, amiga! E q legal a amizade de vcs. Fofas! rs