quinta-feira, 10 de março de 2011

Tempo II: pensamentos desconexos

É possível sofrermos por algo que nunca vivemos?

Sempre sofri por não ter vivido na década de 60. Desde minha adolescência, me imagino usando aquelas roupas, me vendo em preto e branco, cabelinhos, óculões, rock n´ roll do melhor, movimento hippie, amor livre, luta por democracia, reuniões, medo, coragem, vontade, ideal.

Ao mesmo tempo, a cada dia, me assusto mais com a tecnologia. Não entendo, acho estranho. Tudo é rápido, tudo é descartável, substituível, efêmero. O tempo passa por mim e eu não o vejo. Quando dou por mim, ele já foi.

Hoje, meu aluno me perguntou o que era aquela sigla estranha que aparecia no homework dele: ICQ. "É um MSN das antigas", disse eu. "Ah, minha mãe tinha um desse. É um que tem uma florzinha, né, teacher?", perguntou uma outra aluna. Me senti velha, ultrapassada. E pensar que ICQ era tão legal, tão moderno.

Não faz muito tempo, eu tinha a idade dos meus alunos. Não sei bem quando deixei de ter, passou rápido demais pra eu me dar conta. Me lembro daquele tempo como se fosse hoje. Quando mesmo começamos a nos esquecer dos detalhes da juventude? Às vezes tenho vontade de escrevê-los, para nunca ter de esquecê-los. Mas serão os detalhes detalhados em palavras os mesmo que os gravados na memória? Acho que não...

Gosto de ter vivido no meu tempo, mas às vezes sinto não ter vivido antes, quando tudo era mais inocente, mais devagar, mais... sei lá. Não sei, não vivi. Às vezes sofro por não ter vivido lá. Saudosismo do que não vivi, do que desconheço, do que idealizo.

Saudade de um tempo. Medo do tempo. O tempo. O tempo é algo estranho. Conheço suas medidas, conheço seus efeitos. Desconheço todo o resto a seu respeito. Medo do tempo.

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